terça-feira, 15 de janeiro de 2008
O caso Wal-Mart (Parte II)
A maior rede de varejo do mundo, com vendas de 345 bilhões de dólares no ano passado, está no aguardo para que o projeto de RFID torne a previsão uma realidade nas suas 4.068 lojas dos Estados Unidos.
O ponto chave é garantir que as etiquetas estejam aplicadas em todos os produtos, além de instalar um aparelho RFID no veículo que vai transportar as cargas, de modo que ele aponte ao motorista exatamente onde deve ficar cada ítem dentro dos armazéns de estoque.
"Este é um assunto muito importante o Wal-Mart", disse Ron Moser, que lidera a estratégia de RFID da companhia e participou do Taiwan International RFID Applications Show, em Taipei.
A empresa é largamente vista como uma das alavancas mundiais da tecnologia RFID, mas deu alguns passos errados. Ela não cumpriu sua própria meta de instalar a tecnologia em 12 dos seus 137 centros de distribuição, no ano passado, e, em Abril, se dispôs a colocar a inovação em mil de suas lojas, mas, até o momento, só instalou o RFID em 975 delas.
O Wal-Mart começou a trabalhar com a tecnologia das etiquetas inteligentes em 2003 e espera o roll-out dessa novidade para resolver problemas de estoque tanto nos Estados Unidos como no Canadá.
A dificuldade em encontrar certos itens no estoque quando necessário causa à varejista uma série de dores de cabeça. Um deles é que a demora em encontrar o produto pode fazer com que o cliente deixe de buscá-lo nas gôndolas, o que representa perdas para a companhia.
Um estoque desordenado também pode levar a compras desnecessárias de produto junto ao fornecedor, já que os administradores podem achar que a gôndola está vazia por falta de produto, quando na verdade ele existe nos estoques, mas não é localizado.
Ao colocar as etiquetas em todos os produtos, a companhia pode encontrá-los com facilidade, onde quer que eles estejam, de modo rápido e eficaz. Em cada loja do Wal-Mart que a tecnologia foi instalada, o impacto foi imenso na recuperação de vendas perdidas.
Normalmente, cerca de 2% de todas as vendas perdidas acontecem pelo simples fato de que um ítem se esgotou no estoque, mas 41% das perdas são provocadas por problemas de inventário, ressaltou Moser. Se o RFID puder evitar 10% desse problema, o Wal-Mart ganhará 287 milhões de dólares por ano em vendas que deixarão de ser perdidas, calculou.
Ele estima que o RFID tenha um impacto ainda maior do que teve o sistema de código de barras quando a tecnologia foi introduzida, em 1984. Com o RFID, Moser espera que a precisão dos estoques possa ser amplamente elevada.
Até o momento, 600 dos principais fornecedores do Wal-Mart começaram a usar RFID para se adequar à iniciativa da companhia. "Alguns deles não percebem nenhum benefício no uso dessa tecnologia e só adotaram porque o Wal-Mart pediu", afirmou Moser. "Iremos trabalhar com esses fornecedores para ajudá-los a encontrar formas de redução de custos e outros benefícios com essa aplicação", disse ele.
O caso Wal-Mart (Parte I)
A primeira patente
O governo dos Estados Unidos também tem voltado atenção para os sistemas RFID. Na década de 1970, o laboratório nacional de Los Alamos teve um pedido do departamento de energia para desenvolver um sistema para rastrear materiais nucleares. Um grupo de cientistas idealizou um projeto onde seria colocado um transponder em cada caminhão transportador, o qual corresponderia com uma identificação e potencialmente outro tipo de informação, como, por exemplo, a identificação do motorista.
No começo da década de 90, engenheiros da IBM desenvolveram e patentearam um sistema de RFID baseado na tecnologia UHF (Ultra High Frequency). O UHF oferece um alcance de leitura muito maior (aproximadamente 6 metros sobre condições boas) e transferência de dados mais velozes. Apesar de realizar testes com a rede de supermercados Wal-Mart, não chegou a comercializar essa tecnologia. Em meados de 1990, a IBM vendeu a patente para a Intermec, um provedor de sistemas de código de barras. Após isso, o sistema de RFID da Intermec tem sido instalado em inúmeras aplicações diferentes. Mas a tecnologia era muito custosa comparada ao pequeno volume de vendas, e a falta de interesse internacional.
O RFID utilizando UHF teve uma melhora na sua visibilidade em 1999, quando o Uniform Code Concil, o EAN internacional, a Procter & Gamble e a Gillette se uniram e estabeleceram o Auto-ID Center, no Instituto de Tecnologia de Massachusets. Dois professores, David Brock e Sanjay Sarma, têm realizado pesquisas para viabilizar a utilização de etiquetas de RFID de baixo custo em todos os produtos feitos, e rastreá-los. A idéia consiste em colocar apenas um número serial em cada etiqueta para manter o preço baixo (utilizando-se apenas de um microchip simples que armazenaria apenas pouca informação). A informação associada ao número serial de cada etiqueta pode ser armazenada em qualquer banco de dados externo, acessível inclusive pela Internet.
A História do RFID
A tecnologia de RFID tem suas raízes nos sistemas de radares utilizados na Segunda Guerra Mundia. Os alemães, japoneses, americanos e ingleses utilizavam radares – que foram descobertos em 1937 por Sir Robert Alexander Watson-Watt, um físico escocês – para avisá-los com antecedência de aviões enquanto eles ainda estavam bem distantes. O problema era identificar dentre esses aviões qual era inimigo e qual era aliado. Os alemães então descobriram que se os seus pilotos girassem seus aviões quando estivessem retornando à base iriam modificar o sinal de rádio que seria refletido de volta ao radar. Esse método simples alertava os técnicos responsáveis pelo radar que se tratava de aviões alemães (esse foi, essencialmente, considerado o primeiro sistema passivo de RFID).
Sob o comando de Watson-Watt, que liderou um projeto secreto, os ingleses desenvolveram o primeiro identificador ativo de amigo ou inimigo (IFF – Identify Friend or Foe). Foi colocado um transmissor em cada avião britânico. Quando esses transmissores recebiam sinais das estações de radar no solo, começavam a transmitir um sinal de resposta, que identificava o aeroplano como Friendly (amigo). Os RFID funcionam no mesmo princípio básico. Um sinal é enviado a um transponder, o qual é ativado e reflete de volta o sinal (sistema passivo) ou transmite seu próprio sinal (sistema ativo).
Avanços na área de radares e de comunicação RF (Radio Frequency) continuaram através das décadas de 50 e 60. Cientistas e acadêmicos dos Estados Unidos, Europa e Japão realizaram pesquisas e apresentaram estudos explicando como a energia RF poderia ser utilizada para identificar objetos remotamente.
O que é RFID?
RFID é um acronimo do nome (Radio-Frequency IDentification) em inglês que, em português, significa Identificação por Rádio Frequência. Trata-se de um método de identificação automática através de sinais de rádio, recuperando e armazenando dados remotamente através de dispositivos chamados de tags RFID.
Uma tag RFID é um pequeno objeto, que pode ser colocado em uma pessoa, animal ou produto. Ele contém chips de silício e antenas que lhe permite responder aos sinais de rádio enviados por uma base transmissora.